Em um complexo de 15 hectares cercado de Mata Atlântica em Camaragibe, perto do Recife (PE), um novo empreendimento do futebol brasileiro se inspira no passado para traçar um plano ambicioso. Um clube-empresa chamado Retrô promete investir pesado para chegar ao menos no Campeonato Brasileiro da Série B dentro de quatro anos, com direito a construir estádio, revelar jogadores e até contratar torcedores se for preciso.
O mentor do projeto é o presidente do clube, Laércio Guerra. Empresário e diretor-geral do Centro Universitário Brasileiro (Unibra), fundado em 2008, ele teve a ideia de criar o Retrô em 2016. Em um terreno espaço onde construiria um condomínio residencial, preferiu investir R$ 35 milhões para construir um complexo esportivo voltado inicialmente ao trabalho social da sua instituição de ensino.
Em 2019 a ideia de virar um time profissional vingou. No ano ano passado o time foi vice-campeão da segunda divisão e conseguiu o acesso à elite. Neste ano, precisa terminar entre as primeiras posições para conseguir a sonhada vaga na Série D do Brasileiro do ano que vem e iniciar a luta por promoção no cenário nacional.
O empresário escolheu batizar o clube com algum nome capaz de resumir o conceito do projeto. “A ideia é tentar retroagir aos conceitos do futebol antigo, dentro do que é moderno na preparação atual. Só joga aqui quem sabe cuidar da bola e tenha técnica, seja zagueiro ou goleiro”, explicou ao Estado. A grande inspiração é a seleção brasileira de 1982.
Guerra tinha como experiência no futebol ter sido dirigente do Sport, mas ao criar o próprio clube preferiu apostar em uma estrutura que rompesse com o modelo tradicional do futebol. Os membros principais do organograma do Retrô vieram de outras áreas: o diretor de futebol trabalhava com logística e o supervisor tinha grande experiência na área comercial, por exemplo.
“Nós pegamos neófitos. Se fosse alguém que já estava no futebol, teria os vícios do esporte”, explicou. Para contratar jogadores ou técnico, há um processo seletivo de várias etapas, inclusive com entrevista. “Quando a gente contrata treinador, nós é que dizemos o que ele precisa aplicar no dia a dia. É o técnico que tem de se adaptar ao clube e não o inverso”, afirmou.
O Retrô disputou neste ano pela primeira vez a Copinha e conta com uma ampla estrutura para a base. Os mais novos jogam futsal pelo sub-7. Todas as categorias buscam jogar no mesmo estilo, com toque de bola e sem chutões. Em 2019, em 13 competições estaduais disputadas para as categorias de inferiores, o clube foi finalista em 11. Atualmente são 532 garotos na base.
Todos utilizam o mesmo CT que os profissionais. A estrutura está em reforma para ter com 11 campos oficiais. O local negocia com a CBF para receber os treinos da seleção brasileira no próximo mês durante a disputa do jogo com a Bolívia, pelas Eliminatórias da Copa. O elenco profissional tem folha salarial de R$ 400 mil, a terceira maior de Pernambuco. Apenas Sport e Náutico gastam mais. O compromisso do clube é pagar os jogadores a cada 15 dias, sem atrasar.
O empresário utiliza a estrutura do Retrô inclusive como extensão dos alunos da Unibra. Estudantes de fisioterapia, educação física, odontologia e biomedicina fazem estágio no CT e atuam no atendimento aos garotos. Os alunos têm ainda o papel de atuar como torcedores em jogos do time, ao ganharem ingressos, transporte e camisas para os jogos do time na Arena Pernambuco.
Guerra afirmou que, no momento, os pesados aportes ainda não dão retorno. Neste ano o time começou bem o Estadual e após quatro jogos é o quinto colocado.
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