Já se foi o tempo em que o crescimento econômico de um país era medido pelo número de trabalhadores ocupados.
Hoje, o crescimento da informalidade é tão verdadeiro quanto a queda real na renda das famílias, que passaram a trabalhar a mesma coisa ou até mais para receber menos e se endividar mais, numa escala que atinge até os trabalhadores mais qualificados.
O crescimento econômico tímido, que devolveu boa parte da classe média para a pobreza, não é fenômeno do governo do presidente Jair Bolsonaro.
Esse processo de uma economia frágil, que já vinha se desenhando há décadas pelas razões sabidas, teve uma súbita deterioração no segundo governo Dilma Rousseff e, de lá para cá, é uma ladeira que só desce.
Reformas como a trabalhista e a da Previdência não carregam o antídoto que salve a economia brasileira no curto, médio e, quem sabe, nem no longo prazo.
A recente e desconcertante declaração do ministro da Economia, Paulo Guedes, de que é até bom o dólar estar alto, pois ajuda a indústria a exportar e a crescer mais, é inacreditável vinda de um liberal da escola de Chicago, que rejeita vigorosamente o protecionismo.
A ideia de que substituindo as importações o País entrará nos eixos é tão falaciosa quanto acreditar que boa parte da mesma indústria que o ministro quer ajudar prescinda dos insumos adquiridos em dólar.
Ou seja, é cobrir a cabeça para descobrir os pés, e vice-versa.
Ao fornecer o combustível para que os especuladores do câmbio agissem, com a sua declaração desastrosa da semana passada, Guedes expôs um nível de amadorismo só comparável aos setores mais primitivos do governo, pertencentes às áreas ideológicas.
É dessa gente que se espera declarações estrambóticas, e não do ministro Paulo Guedes.
Ademais, um dos desafios mais sérios do atual governo será adentrar por reformas complexas como a tributária e, pior do que ela, a administrativa, já que tocará em privilégios tão antigos quanto odiosos.
Já que do presidente Bolsonaro se espera quase tudo, o ministro Guedes deve pensar duas vezes e traçar um claro meridiano em relação ao seu chefe, dando a entender que existe uma luz no fim desse túnel.