O arquiteto Moacyr Gomes da Costa, que faleceu ontem em Natal vítima de parada cardíaca, partiu mas deixou o nome marcado na história da cidade. Ele assinou o projeto do primeiro estádio de grande porte do RN, o João Cláudio de Vasconcelos Machado (Machadão que no próximo dia 4 de junho faria 50 anos) e, mais tarde, na comemoração dos 400 anos de fundação de Natal foi o responsável pelo projeto do pórtico instalado na entrada da cidade. O corpo do caicoense de 94 anos foi enterrado no cemitério Morada da Paz. A Federação Norte-rio-grandense de Futebol (FNF) mandou realizar um minuto de silêncio nos jogos América x Retrô e ABC x Volta Redonda.
Amigos próximos, acreditam que Moacyr nunca superou a decisão das autoridades potiguares de derrubarem o Machadão, demolido em 2012 para dar lugar ao projeto da Arena das Dunas, praça esportiva criada para abrigar a Copa de 2014. O Arquiteto chegou a encabeçar uma campanha e mostrar um projeto de recuperação do Machadão, imortalizado pelo comentarista João Saldanha como “o poema de concreto” devido a beleza das linhas curvas da praça esportiva, mas não conseguiu o apoio necessário devido às exigências da FIFA.
O conselheiro do ABC, professor Roberto Cabral, ressalta que junto com o amigo se foi um pedaço da história de Natal, onde ele também assinou o projeto da faculdade de odontologia da UFRN.
“Moacyr Gomes da Costa, nascido em Caicó/RN, em 7 de junho de 1927, homem elegante, um ser humano da paz, arquiteto renomado, reconhecido nacionalmente. Ele e o colega Vitor Artese projetaram a obra arquitetônica do mercado público do Rio de Janeiro, considerada a terceira maior obra do Brasil em volume de concreto armado. Em 2012 recebeu com tristeza o descaso e destruição da sua principal obra da arquitetura desportiva, o estádio João Cláudio de Vasconcelos Machado - MACHADÃO, um dos projetos do “Complexo Desportivo de Lagoa Nova” que incluía o estádio, o ginásio Humberto Nesi (Machadinho) e a pista de Kart, todos demolidos. Esse fato acarretou uma tristeza profunda que instalou-se e perdurou em seu corpo físico e em sua alma até hoje, quando sua luz apagou na terra e acenderá no céu! Vai em paz nobre amigo, os céus de Natal estão chorando desde às 10h, em homenagem a sua partida. Você muito orgulhou seus familiares e amigos com suas obras arquitetônicas e humanitárias! Descanse em Paz!”.
No ano de 2013, em uma entrevista publicada no jornal do Curso de Arquitetura Pau Brasil, indagado sobre qual dos projetos realizados para Cidade do Natal considerava mais importante, Moacyr Gomes surpreendeu ao citar o Pórtico dos Reis Magos.
“Um dos marcos de Natal é a entrada, o Pórtico dos Reis Magos, também dele participei. Aliás, eu acho que, como arquitetura, é o melhor que eu fiz em Natal, mais que o Machadão, por simular uma mensagem histórica, inspirada no nascimento de Cristo e sua relação com a data de fundação de Natal, com a anunciação dos Reis Magos ao mundo por via de uma estrela cadente. Pensei que a dinâmica da estrela e a riqueza das figuras bíblicas, com suas vestes e coroas, darão poderosa imagem arquitetônica. Juntei o calculista José Pereira, o saudoso Manchinha, grande escultor, o meu amigo e excelente arquiteto Eudes Galvão e fizemos um projeto audacioso, com uma estrela abstrata, garatuja meio surrealista, e as figuras clássicas dos Reis Magos”, destacou.
O jornalista Rubens Lemos Cunha, defensor fervoroso do Machadão, a ponto de se recusar a pisar na Arena das Dunas, acredita que "de fato Moacyr Gomes começou a morrer, a partir do momento em que forças poderosas decretaram o assassinato do estádio Machadão. Estou profundamente triste com essa partida, me associo a família na figura do irmão do arquiteto e que também é outro amigo querido advogado e professor, Carlos Roberto de Miranda Gomes, neste momento de muita dor e de tristeza. Moacyr partiu dormindo, na suavidade dos traços que fizeram do Machadão uma saudade concreta!"
Lemos classifica o arquiteto como uma das personalidades mais brilhantes e significativas do Rio Grande do Norte.
"Moacyr Gomes da Costa foi o responsável pela maior obra prima do RN, o estádio João Cláudio de Vasconcelos Machado. O Machadão foi demolido de forma cruel, para quatro partidas da Copa do Mundo, cercada de suspeitas. Podemos considerar o estádio como o filho não carnal que Moacyr Gomes teve, onde ele dedicou todo seu talento, inteligência e sensibilidade ao construir um estádio em forma de elipse, como uma onda. Essa arquitetura viria a ser conhecida como o poema de concreto, por encantar a todos que nele estiveram, torcedores e jogadores natalenses e também de fora que estiveram aqui para atuar contra a seleção brasileira. Moacyr faz parte da geração dos homens mais brilhantes e significativos do estado porque foi capaz de mudar o rumo da própria história. Seu trabalho está imortalizado em vários projetos importantes em Natal e outros estados. Ele era um gênio da prancheta!"
Machadão ainda poderia estar de pé
Quando da escolha de Natal para ser sede a proposta era baseada na construção de um segundo estádio que sequer seria erguido na vizinha cidade de Parnamirim: o Estrelão. Essa seria a primeira de muitas faces do projeto da cidade para ser uma das sedes do Mundial. Reprovado o projeto devido a questão de transportes, veio a segunda opção, construir no local do antigo Machadão.
Neste momento surge a primeira discordância. O arquiteto Moacyr Gomes, criador do projeto do estádio João Machado - “Machadão”, dava a sua primeira entrevista à Tribuna do Norte, sugerindo a opção pela reforma do estádio de Lagoa Nova e não a construção de uma nova arena em Natal. Segundo ele, o projeto dependeria de R$ 80 milhões (com estacionamento para 1.200 veículos), mas com as exigências da Fifa iria para R$ 100 a R$ 150 milhões (com 6 mil vagas para veículos e 2 mil ônibus). Ele exemplificou que um estádio novo custaria, como o Engenhão do Rio de Janeiro, uns R$ 450 milhões. A Arena das Dunas ficou em torno de R$ 500 milhões.
Apenas 10 dias depois dessa entrevista à Tribuna do Norte, sem aviso, ou debate público, os responsáveis pelo projeto de Natal na Copa 2014 deram uma guinada de 180º na ideia de uma novo estádio.
No dia 28 de setembro de 2008 a Tribuna do Norte publicou matéria explicando que técnicos da antiga Secretaria Municipal de Esporte e Lazer (SEL), em parceria com outros órgãos da esfera estadual da administração pública chegaram a conclusão que adequar o estádio Machadão seria a melhor opção para convencer a FIFA que Natal merecia ser sede.
A comissão chamou o arquiteto Moacyr Gomes que elaborou um esboço de projeto cuja ideia se baseava no rebaixamento do gramado e avanço das arquibancadas para aumentar a capacidade expandindo o estádio internamente. “Sai muito mais barato para Natal preservar o Castelão”, disse à época Gomes.
O rebaixamento do gramado se daria em cerca de 4m e o estádio teria a capacidade ampliada para 46.300 lugares. Uma outra intervenção seria realizada na cobertura, que poderia ser sobre toda a estrutura de arquibancadas, ou dependendo das verbas, desenvolver uma cobertura completa, transparente, fechando o teto como um todo, sem atrapalhar a passagem da luz solar. Mas, o projeto aprovado pela CBF e Fifa e que levou Natal a ser escolhida como uma das sedes do Mundial de 2014 foi o de um novo estádio: A Arena das Dunas.
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