A Polícia Civil de Minas Gerais concluiu que não há responsáveis pelo desabamento de uma rocha que matou dez pessoas no Lago de Furnas, em Capitólio, no dia 8 de janeiro. No inquérito, divulgado nesta sexta-feira, a corporação classifica a tragédia como “evento natural” e diz que não foi verificada “nenhuma ação humana específica que tenha provocado a queda da rocha”, que pesava 900 toneladas. A polícia pediu o arquivamento do inquérito, já que ninguém foi indiciado.
Por avaliar que novos desmoronamentos podem ocorrer em Capitólio, a equipe técnica da Polícia Civil elaborou dez sugestões para os órgãos e instituições responsáveis pelo licenciamento e fiscalização da região.Entre as sugestões, estão o uso obrigatório de coletes salva-vidas em toda a represa, o uso de capacetes nas proximidades dos cânions e a proibição de passeios turísticos após advertências da Defesa Civil.
Em entrevista coletiva, o delegado Marcos Pimenta, responsável pelo inquérito, comentou sobre as possíveis irregularidades levantadas após a tragédia que poderiam estar ligadas ao desabamento. “Nós averiguamos eventuais irregularidades que pudessem culminar para o ocorrido, mas essas irregularidades não estão conexas com o tombamento da rocha. Se houvesse a existência de responsáveis pelas dez mortes eles seriam devidamente punidos, mas não foi isso que ficou comprovado", afirmou Pimenta.
Um exemplo é a perfuração supostamente irregular de um poço para a captação de água a cerca de 150 metros do desabamento, em uma obra particular. Segundo o delegado Pimenta, a empresa que atua na região de Capitólio tinha solicitado ao Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) autorização para a perfuração de um poço de 80 metros de profundidade. No entanto, a perfuração foi feita por outra empresa, com um CNPJ diferente, e com profundidade de 288 metros. “Isso teria que ser comunicado pelas empresas ao Igam no prazo legal de 30 dias, e não houve por parte das empresas essa comunicação. Mas a perfuração do poço não contribuiu para o desabamento", concluiu.
Outra anormalidade detectada durante as investigações é a inexistência de píer para a fiscalização das embarcações, conforme determina um decreto municipal de Capitólio. O delegado disse que o píer teria sido retirado pela própria prefeitura após atos de vandalismo e não foi reposto.
Além disso, também violou as regras o fato de que apenas crianças e idosos utilizavam coletes salva-vidas, e que a legislação permitia até 40 embarcações nos cânions. Para a polícia o indicado é no máximo 18 embarcações por vez na área dos cânions.
Por fim, cerca de duas horas antes do acidente, a Defesa Civil emitiu um alerta sobre chuvas intensas e a possibilidade de ocorrências de cabeça d'água em Capitólio. Orientação que segundo a Polícia Civil de Minas, deveria ter sido checada pelo piloto, que também morreu.
O perito e geólogo da Polícia Civil, Otávio Guerra, explicou que a causa do desmoronamento da pedra está ligada ao processo natural de remodelamento natural na região. Segundo ele, a movimentação das águas fez com que processo erosivo removesse a massa que dava sustentação ao bloco. “Desse modo, ocorreu o deslocamento da base e o bloco se moveu. Tanto a rachadura quanto a queda da rocha são eventos naturais. Existem dezenas de outros blocos na região com risco. Por isso, é necessário urgentemente o mapeamento das áreas de risco da localidade", explicou.
Nenhum comentário:
Postar um comentário