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terça-feira, 1 de março de 2022

'América perde um pai': José Rocha parte, mas deixa legado de amor

 A cadeira de presidente do América perdeu hoje um dos seus conselheiros que mais vezes ocupou aquela vaga. Entre idas e vindas José Rocha desempenhou o cargo de mandatário do clube em quatro oportunidades. E hoje a família alvirrubra se une para prestar a última homenagem àquele que imortalizou seu nome na história americana e do próprio futebol potiguar, dando o nome ao estádio do clube. Na opinião de muitos companheiros próximos, que conhecem a dedicação e o zelo com o clube que o ex-presidente sempre demonstrou junto a entidade esportiva, o América acaba de perder um pai. 


O último grande projeto encabeçado pelo dirigente, no comando do conselho deliberativo, foi a construção do estádio do América, no qual o nome de José Rocha acabou sendo imortalizado no clube


José Vasconcelos da Rocha cuidava do América como cuidou dos próprios filhos, buscando sempre os caminhos mais seguros para proteger a instituição dos percalços naturais da vida. Sempre nos momentos de grande crise, ele era um dos que sempre estendia a mão para salvar o clube e sempre tinha a palavra certa e por isso, jamais perdeu a tranquilidade conduzindo uma de suas maiores paixão, guardada as devidas proporções em relação a família, é claro.

Na entrevista realizada para falar da comemoração do centenário do clube, ele confessou que conciliar os dois amores: família e América, jamais foi uma tarefa simples. Quando no clube lhe roubava o precioso tempo da vida em família surgiam as reclamações, logo acompanhada de algumas promessas. 
"Já prometi várias vezes à minha esposa que iria deixar o América. Sempre que ela fazia uma reclamação, eu dizia que iria apenas trabalhar para organizar a situação lá dentro e logo depois sairia. Mas eu nunca consegui cumprir essa promessa" , ressaltou. O América é como um vício, difícil de deixar”, completou sorrindo.

Esse amor e a devoção que teve pelo clube que escolheu para torcer ainda criança, fez o atuante dirigente ser reconhecido e respeitado até pelos seus “adversários”, como o ex-presidente do ABC, Judas Tadeu Gurgel, que reconheceu não apenas os valores como desportista, mas como um grande cidadão.

“Nosso estado perdeu um cidadão na concepção da palavra , tive a oportunidade de conviver com um grande ser humano que foi um adversário e rival muito leal. Minhas condolências à família e à torcida alvirrubra , que perdeu um verdadeiro símbolo do nosso futebol”, destacou Tadeu.

O conselheiro do América, Walmir Nunes, que sempre esteve ao lado de José Rocha nos grandes embates realizados dentro do clube, quando era necessário tomar alguma decisão e o conselho se encontrava dividido. Acredita que o clube perdeu um de seus maiores mediadores, que enquanto presidente do conselho deliberativo soube conduzir todos os processos, sem perder o controle da situação em momento algum e que não temia as pressões externas.

“Do ano 2000 para cá meu convívio com José Rocha e o filho Eduardo Rocha era quase que diário. Trabalhamos muito para encontrar nomes para lançar a presidência que pudesse manter a unidade americana, quando tinha um problema que ameaçasse o patrimônio do clube, ele, mesmo com a idade avançada trabalhava de forma incansável e eu sempre ali do lado dele. Por último, José Rocha trabalhou também no sentido de fazer Souza aceitar assumir a presidência do clube, por acreditar que assim o América estaria em boas mãos. Ele discutia sobre tudo no América, pedia opinião sobre jogador, treinador, não deixava nada passar em branco”, contou Walmir Nunes, que falava com o amigo diariamente até duas vezes ao dia.

O conselheiro Walmir Nunes destaca que aprendeu muito nesse convívio próximo com a família Rocha e disse que não apenas ele, mas acredita que todo o clube irá sentir muita saudade do homem que foi tão zeloso com as coisas alvirrubras.

“O América perdeu o pai. Nosso clube ficou órfão do pai que tinha. Eu nunca vi, uma pessoa que em todos os momentos sempre esteve pronto para dedicar sua atenção ao clube. Bastava convocar que ele chegava. A amizade entre as nossas famílias começou entre ele e meu pai, depois do falecimento do meu pai nos aproximamos mais ainda, a consideração era tanta que Zé me chamava de filho ou então como chamava meu pai de forma carinhosa de Pretinho. Estou muito triste, o nosso clube perdeu um lutador incansável e que vai deixar muita saudade", ressaltou Walmir Nunes.

Além do estádio, o último grande projeto alvirrubro, empunhado por José Rocha, na companhia do conselheiro José Medeiros, um dos projetos que mais acalentavam a alma do dirigente era um intitulado Guri Americano.

“Ele acordava bem cedo para ver os garotos do projeto entrando na sala de aula cantando o hino do América. O projeto criado para ajudar na formação de futuros cidadãos, mexia com a emoção dele, que chegava a derramar lágrimas quando falava disso. O orgulho dele era esse também, pois sempre foi muito preocupado com o lado social das pessoas que viviam em torno do clube e também dependiam do América. Esse projeto do Guri Americano era uma escola que funcionava na antiga sede do clube”, recorda o amigo Walmir.

Muitos atletas que passaram pelo clube e tiveram a oportunidade de manter um contato direto com o nosso ex-presidente, o chamavam de pai e tinham motivos para tanto. Destaca o conselheiro Walmir Nunes. 

“Cansei de ver atletas entrarem na sala dele com problemas com a esposa, de dinheiro e outras necessidades e ele resolver a situação ali mesmo. Fazia as coisas e ficava calado, já resolveu a vida de muita gente e são justamente essas pessoas que o consideram como um pai. José Rocha era isso, e não estou falando isso porque ouvi falar. Eu sou testemunha de muitos desses momentos devido aos nossos laços de amizade”, revelou o conselheiro Walmir Nunes. 

Frases de José Rocha

“Muita gente já renunciou ao comando do América, a questão é antiga, se minha memória não falha, o que passou menos tempo no cargo foi Miguel Carrilho de Oliveira, que permaneceu apenas um mês como presidente em 1953”.

“Aqui é pesado! É um clube diferente e que hoje exige do presidente um expediente igual ao de uma empresa. Toma tempo da pessoa mesmo e, no futebol, o mundo costuma ser ingrato. Aqui dentro não existe gratidão nem reconhecimento, apenas cobranças”.

“Quando assumimos um cargo de comando, devemos ter claro na cabeça que o caminho será tortuoso, pois existirão os momentos bons e os momentos difíceis também.  A pessoa tem de procurar cumprir aquilo que assumiu em termos de mandato. Não esperava ver uma nova renúncia a essa altura no América, passei por momentos semelhantes e jamais o pensamento de renúncia passou pela minha mente”.

“O América renovou, Leonardo Bezerra encontrou uma dificuldade pelo caminho, que foi a questão da falta de resultados no futebol e achou por bem sair. Mas em termos administrativos ele realizou uma boa gestão, infelizmente os resultados não ocorreram e ele passou a achar que não estava correspondendo da forma como planejou”.

“Existem algumas críticas que realmente machucam muito a pessoa do dirigente, principalmente aquelas que sabemos ser injustas. Mas quem assume a presidência de um clube do porte de um América já vai para lá sabendo que coisas assim irão ocorrer. Como o sábio Vicente Matheus, ex-presidente do Corinthians, disse um dia: Quem vai para chuva é pra se queimar [risos]. Então já tem de entrar preparado”.

"Nossos bailes de carnaval eram os mais concorridos da cidade. As filas davam voltas no quarteirão e a alta sociedade potiguar era presença constante nas dependências da nossa sede social". 

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