Órgãos como o Igarn recomenderam que rio Pium não deve ser utilizado para pesca ou banho até fim de análises sobre impacto
Parte da substância química atingiu o Rio Pium. Amostras foram coletadas para análise, mas o Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente (Idema) informou à TRIBUNA DO NORTE que ainda não há uma data para que a avaliação sobre as possíveis consequências ao manancial seja concluída.
Enquanto o resultado das amostras coletadas não fica pronto, pescadores da Colônia de Pium, na Grande Natal, se dividem entre deixar de lado a atividade que garante o sustento das próprias famílias, ou se se arriscar e entrar no rio, mesmo com as incertezas sobre como está a qualidade da água.
Nessa quarta-feira (8), a TN esteve no local, mas não encontrou ninguém em atividade. Moradores da Colônia informaram à reportagem que a maioria dos pescadores utiliza a área apenas para trabalhar, mas não vive por ali. As informações dão conta, no entanto, de que alguns pescadores mantiveram o acesso ao rio.
Cecília Diomedes, de 19 anos, trabalha e mora na Colônia. Ela pesca desde a infância. Com medo das consequências, a jovem contou que tinha evitado o rio desde o sábado, quando aconteceu o vazamento de material químico, mas que pretendia retomar a pesca ainda na quarta-feira.
“Estou sem pescar desde que o acidente aconteceu. Ficar esses dias sem o rio é péssimo, porque, como eu pesco para comer, tive que comprar outro tipo de alimento para substituir o peixe”, descreve. Cecília tem uma filha pequena e conta apenas com o Bolsa Família como fonte de renda.
“A pesca é importante, porque é o meu único sustento. Tenho o Bolsa Família, mas divido o dinheiro com minha mãe, que mora comigo e tenho que sustentar minha filha também”, desabafa. O primo de Cecília, o estudante José Jardson, de 16 anos, costuma acompanhá-la na atividade da pesca.
Ele conta que entrou no Rio Pium na terça-feira (7), contrariando as recomendações dos órgãos ambientais, que pediram para que as pessoas evitassem o manancial. “Me arrisquei, mas peguei seis peixes e trouxe para minha prima. Quase tudo que eu pego, eu divido com ela, para ajudá-la”, disse José Jardson.
Cecília admitiu que estava receosa quanto ao consumo do peixe e revelou que pretender retornar logo ao rio para pescar. “Talvez eu volte à pesca hoje ainda [na quarta-feira], porque [ficar sem pescar] está fazendo muita falta em casa”, confessou Cecília.
Acidente
No sábado, uma carreta tombou na Avenida Olavo Lacerda Montenegro, nas proximidades do bairro Liberdade, em Parnamirim. O veículo estava carregado de material químico, especialmente hidrossulfito de sódio. A via ficou interditada até a terça-feira (7).
Parte da substância química foi despejada no Rio Pium. O Instituo Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais (Ibama) informou, na ocasião, que iria tomar as medidas necessárias caso seja comprovada a existência de crime ambiental. A TRIBUNA DO NORTE procurou o órgão para atualizar as informações sobre o caso, mas não houve respostas.
A reportagem também fez contato com o Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente (Idema) e o Instituto de Gestão de Águas do RN (Igarn) para que comentassem como andam as análise em relação às amostras coletadas no Rio Pium. Ana Catarina, analista técnica do Idema, acompanhou as primeiras coletas, realizadas na noite do sábado, dia do acidente, e também no domingo, data seguinte ao vazamento. Segundo ela, as análises ainda não foram concluídas.
“Alguns parâmetros já foram obtidos, mas nós ainda não podemos revelar, porque temos que concluir as análises das amostras como um todo”, disse. As avaliações estão a cargo do Núcleo de Processamento Primário e Reuso de Água Produzida e Resíduos (NUPRAR), da UFRN.
“Parâmetros como Ph da água são imediatos, mas outros demoram um pouco mais. Então, nesse momento, nós estamos no aguardo de todas as análises. É preciso avaliar o conjunto”, reforçou a analista do Idema. O Igarn explicou que também aguarda o resultado das coletas. A expectativa, segundo o órgão, é que até a próxima semana, todas as amostras tenham sido avaliadas.
Ana Catarina, do Idema, explicou que o prazo é necessário para que um novo material seja coletado e avaliado. “Isso é comum para que tenhamos um panorama depois de alguns dias, porque o material que cai no rio se dilui, tendo em vista que é um manancial corrente. É preciso levar esse fator em conta”, explicou.
Até que os resultados sejam divulgados, a orientação, segundo o Igarn, é que as pessoas não utilizem o rio. “A recomendação é esperar as avaliações das amostras coletadas”, informou o órgão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário