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quinta-feira, 17 de junho de 2021

Após aposentadoria, ele viajou para 55 países sozinho e sem falar inglês

Edmo em Chamonix

Edmo Roberto Maia, 67 anos, sempre teve as viagens como hobby da família, mas foi há oito anos, depois de mais de duas décadas como professor e gerente contábil de uma multinacional que viu que as viagens poderiam ter um propósito ainda maior.
"Sou aposentado desde 1996, mas continuei trabalhando até os meus 59 anos, e aí foi quando eu resolvi viver viajando com as minhas economias."
Para conseguir viajar mais e poder conhecer o mundo, ele afirma só se hospedar em lugares econômicos como hostels: "Eu falo que prefiro viajar 90 — fazendo uma alusão a quantidade de dias — do que 10. Então essa é a resposta para quem me pergunta por que eu compartilho quarto. Não me incomodo. Eu gosto de estar entre os jovens e fazendo novas amizades".
Pisa, na Itália
Torre Eiffel, em Paris

Sua primeira viagem desse início do sabático foi com o filho para a Europa, em países como Alemanha, Áustria e a República Tcheca.

Acho que o início de uma nova vida foi quando eu comecei a ir sozinho mesmo"

Ele conta que, um dia, sua filha ligou e ao desligar viu uma promoção por cerca de R$ 1.000 para a África com embarque para o dia seguinte: "Dois dias depois, minha filha me liga novamente, e estranhou o cenário da ligação, eu apenas disse: Estou na África, fiz as malas e vim", relembra.

Nada de inglês
Mesmo graduado em Administração, Contabilidade, História, Geografia, Pedagogia, além de ser pós-graduado e mestre em Contabilidade, ele admite que a única coisa que poderia dificultar as suas viagens poderia ser o inglês, mas que para ele isso nunca foi um problema.

Estudei inglês para passar no mestrado, hoje não me lembro de mais nada e viajo o mundo inteiro e faço amizades por onde eu for, a gente sempre consegue entender."

Para se livrar dos inevitáveis perrengues dos ruídos de comunicação ele indica tranquilidade: "De você se perder não pode ficar nervoso", recomenda.

Viagem de Edmo pelo mundo
Egito
Se o inglês não causa dores de cabeça, a discriminação por conta da idade já foi problema, uma vez. Ele chegou a ser pedido para se retirar de uma hospedagem compartilhada na Cracóvia por ter idade mais avançada que as regras do estabelecimento.

"Eu cheguei no hostel e a recepcionista só falava em inglês. Só depois uma outra pessoa ajudou a traduzir, e informou que o hostel não aceitava pessoas mais velhas acima de 60 anos, e entendi que eu não poderia ficar. Pela primeira vez eu me senti discriminado".

Sonhos realizados
O mochileiro, como ele mesmo gosta de ser mencionado, se emociona quando ele fala um de seus últimos sonhos realizados, ver um dos fenômenos mais lindos do mundo: aurora boreal. O destino? Sibéria.
Sibéria

Sua viagem aconteceu em meados do início de 2020 pouco antes da pandemia fechar as fronteiras. Ele saiu sozinho de Moscou, capital da Rússia, em direção a cidade de Teriberka, região da Sibéria, onde tem maior frequência das luzes verdes.

Eu chorei pra valer vendo a aurora boreal. É uma coisa diferente, eu estava em um lugar completamente no meio do nada."

Chegar até o local de observação, no entanto, foi difícil, porque havia tido uma nevasca e as estradas estavam todas fechadas. No fim, Edmo tinha poucos dias, mas conseguiu chegar e ir junto com um grupo de chineses fazer a caçada da aurora boreal a pé. "Acredito que estava menos de 60 graus naquele dia. Foi incrível", relembra.

Essa já era a terceira vez que Edmo tentava ver a aurora boreal, antes disso ele tinha ido para uma pequena comunidade na Suécia, chamada Abisko, na região da Lapônia, e também na Noruega, mas sem êxito.
Moscou

São Petesburgo

Acrescenta ainda que na sua volta as Sibéria ele realizou o outro sonho, que é embarcar na Transiberiana, a ferrovia mais longa do mundo entre Moscou e Vladivostok, com 9.288 quilômetros de extensão e travessia de até 7 fusos horários em até 8 dias de viagem. "Não é fácil viajar sozinho sem entender nenhum idioma, mas deu tudo certo e foi uma das experiências mais enriquecedoras da minha vida".

Medo de morrer
O aposentado relata um dos dias mais difíceis de sua história pelo mundo, quando ele fez um hiking pela Preikestolen, uma falésia de 600 metros de altura em Forsand, na Noruega. A trilha tem cerca de quatro quilômetros, e tem intensidade média dependendo do condicionamento físico, podendo demorar de duas até mesmo três horas a subida.

"Me lembro que a recepcionista do hostel me disse que não seria um bom dia fazer a trilha porque estava pra vir uma nevasca, resolvi arriscar. Comecei o caminho, e por ser bem demarcado não teve problemas, mas na hora da volta a nevasca já estava tomando conta do caminho e eu não enxergava mais nada a minha frente, nem mesmo as demarcações pelo caminho que eram riscos da letra T em vermelho pintadas nas pedras".
Preikestolen, Noruega

Em um dos momentos da descida íngreme do penhasco, o viajante escorregou por cerca de 10 metros abaixo de onde caminhava, e por alguns momentos sentiu perder a consciência.

"Eu simplesmente me sentei e comecei a pensar na minha família, e foi ali que eu achei que tudo iria acabar, eu ia morrer. De repente, alguns minutos depois, alguém mexeu no meu ombro e me ajudou, na verdade era o motorista do ônibus, e fui resgatado. Eu costumo dizer 'Deus não me ajuda, ele me carrega', é a frase que eu uso".
Egito

Em momentos nem tão felizes assim ele também passou por uma outra tensão, dessa vez em 2019, no aeroporto de Santiago, no Chile, quando um terremoto com 6.8 na escala Richter fez tremer toda a cidade, mas ninguém saiu ferido no local.

Repatriado na pandemia
Quando a pandemia começou a fechar as fronteiras, Edmo já estava viajando, e tinha passado pela Sibéria, Tailândia, Indonésia, Singapura e Dubai. Mesmo assim, segundo ele, nada foi mudado no roteiro até o dia 18 março de 2020 quando havia acabado de chegar no Cairo, Egito.

Só comecei a perceber algumas alterações, principalmente no dia em que eu fui ver as pirâmides, que ao invés de ter muitos turistas como eu imaginava, só tinham apenas 10 pessoas."

Quando voltou ao hostel, já haviam avisado que tudo iria fechar. No dia 9 de abril do ano passado, ele embarcou em um voo fretado pela embaixada brasileira junto com mais brasileiros.

Por conta ainda da pandemia, ele não viajou mais, mas durante a reportagem já estava buscando passagens para a Índia para o início de 2022, onde sonha o Himalaia e conhecer ainda mais a Ásia, como o Nepal.

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