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sábado, 18 de julho de 2020

Bactérias que comem metal são descobertas sem querer por cientistas

Em artigo publicado na revista Nature, cientistas observaram que as bactérias são as primeiras a usar manganês como fonte de energia

Cientistas descobriram um tipo de bactéria que come e obtém suas calorias a partir de metal. Embora se suspeitasse da existência delas há mais de cem anos, isso nunca havia sido provado.

Recentemente, microbiologistas do Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech) identificaram acidentalmente a bactéria depois de realizar experimentos não relacionados com o tema usando um tipo de manganês, um elemento químico fácil de encontrar, semelhante a um giz.

O doutor Jared Leadbetter, professor de microbiologia ambiental da Caltech em Pasadena, deixou um frasco de vidro coberto com a substância molhado com a água da torneira na pia do escritório. O frasco ficou parado ali vários meses, enquanto o pesquisador trabalhava fora do campus. Ao voltar, Leadbetter encontrou-o revestido com um material escuro.

“Pensei ‘o que é isso?’ e comecei a me perguntar se os micróbios procurados há tempos poderiam ser responsáveis pelo material. Então fizemos testes sistematicamente para estudar o caso”, explicou o doutor em um comunicado de imprensa. 

Os pesquisadores descobriram que o revestimento preto encontrado no frasco era manganês oxidado, que havia sido gerado por bactérias recém-descobertas, provavelmente encontradas na água da torneira.

“Há evidências de que parentes dessas criaturas residem nas águas subterrâneas, e uma porção da água potável de Pasadena é bombeada de aquíferos locais”, explicou.

Em artigo publicado na revista Nature na terça-feira (14), os cientistas observaram que estas são as primeiras bactérias a usar manganês como fonte de energia.

“Um aspecto maravilhoso dos micróbios na natureza é que eles podem metabolizar materiais aparentemente improváveis, como metais, produzindo energia útil para a célula”, afirmou Leadbetter.

A nova pesquisa também revela que as bactérias podem usar manganês em um processo chamado quimiossíntese, que converte dióxido de carbono em biomassa.

Os pesquisadores especularam que micróbios não identificados poderiam aproveitar o processo para estimular o crescimento, mas apenas conheciam bactérias e fungos que poderiam fazê-lo.

De acordo com os pesquisadores, as descobertas os ajudarão a entender melhor as águas subterrâneas e os sistemas de água que podem ficar obstruídos pelos óxidos de manganês.

“Existe toda uma literatura de engenharia ambiental sobre sistemas de distribuição de água potável entupidos por óxidos de manganês”, contou Leadbetter. “Mas como e por que motivo esse material é gerado, permanece um enigma. Claramente, muitos cientistas consideraram que as bactérias que usam manganês para obter energia podiam ser responsáveis por isso, mas evidências que sustentassem essa ideia não estavam disponíveis até agora”.

Os cientistas da Caltech também acreditam que a descoberta pode nos ajudar a entender os nódulos de manganês – grandes bolas metálicas do tamanho de uma laranja, ou até maiores, encontradas no fundo do mar. Essas bolas, geralmente contendo metais raros, são pouco compreendidas até hoje.

“Essa descoberta de Jared e Hang [Hang Yu, o outro cientista participante do estudo] preenche uma importante lacuna intelectual em nossa compreensão dos ciclos elementares da Terra e contribui para as diversas maneiras pelas quais o manganês, um metal de transição abstruso, mas comum, moldou a evolução da vida em nosso planeta”, disse Woodward Fischer, professor de geobiologia da Caltech, em comunicado, que não esteve envolvido no estudo.

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