“Sinceramente, não digo mais nada. Quando disseram que eu poderia ganhar a Prefeitura do Natal, e eu disse ‘quero não’, Robinson (ex-governador Robinson Faria) me tirou da Lei Seca. Então, não quero ficar falando não. Em 2016, não queria. Já em 2018, o pedido veio da população. Então eu não tive como dizer não. Então, entrei nessa e hoje não tenho como dizer ‘não quero ser’. Não sei como vai ser a movimentação da população”, afirmou o capitão da PM, que coordenou a Operação Lei Seca no Rio Grande do Norte antes de entrar na política.
Indagado sobre se realmente não descarta a chance de concorrer ao Executivo Estadual, Styvenson mais uma vez deixou a possibilidade em aberto. “Quem vai dizer é a população. Espero que a população esteja satisfeita comigo no Senado. Tento fazer o melhor. Não descarto mais nada na minha vida. Só não vou ser ladrão”, finalizou.
Sobre a gestão de Fátima Bezerra no governo estadual, o senador esquivou-se de uma avaliação, dizendo que vai esperar passar este momento de crise em razão da pandemia do novo coronavírus para poder fazer uma análise. “Sinceramente, esperei um ano, vou esperar como vai ser essa pandemia. E vai ter um momento que terei como analisar”, pontuou.
Pandemia
Ainda durante a entrevista, feita por telefone, o senador Styvenson Valentim falou que viveu uma experiência próxima, ao comprimentar políticos que viajaram para o exterior e que depois testaram positivo para a Covid-19, e que acabou vivendo uma sensação de pânico generalizado dentro do Congresso Nacional.
Quanto à pandemia, disse ser drástica no País, e criticou a postura do presidente Jair Bolsonaro por não estar obedecendo orientações de seus ministros. “Eu vi que o congresso deu uma resposta muito rápida a toda essa situação de pandemia. Quando baixou-se o decreto de calamidade pública que vai até dezembro, o Senado e a Câmara começaram a produzir assistência social e distribuição de renda, mas não vejo essa velocidade com o governo federal. Vi o Congresso agindo rápido, mas não vi o Executivo dando a resposta”, afirmou.
Styvenson criticou também a lentidão na demora para liberar as emendas parlamentares e o critério usado para o pagamento do auxílio emergencial. “Tá tudo descompassado”, alfinetou.
Saída de ministros
Styvenson também comentou a debandada recente de ministros do governo federal, caso de Luiz Henrique Mandetta, da Saúde, e de Sergio Moro, da Justiça e Segurança Pública. “A política é muito vaidosa. A política tem esse problema. Se a pessoa se embebedar ali pelo poder, pelo cargo, fica presa nela mesma, e só vê o autoritarismo dela. Existe o grande clero e o baixo clero. É o amigo de quem ‘tá’ no poder. Quem é amigo de quem tá no poder está no alto clero. Isso eu percebi em 15 meses. Eu me coloco no mais baixo clero. Não tenho cargos em governo federal, não tenho cargos em governo estadual. Fico quieto, fico na minha e faço meu trabalho”, disse.
“Em relação ao Mandetta, achei estranho, não só eu, mas todos os senadores. Achamos precipitado. O que ele (Bolsonaro) vai fazer agora, tirar o próximo ministro?”, questionou Styvenson.
O senador potiguar falou ainda sobre a mudança de postura de Bolsonaro, que, diferentemente, do que foi pregado durante a campanha presidencial, passou a fechar acordos com políticos tradicionais. “Ele conhece. Está há 28 anos como deputado. Ele sabe quem são essas pessoas. É uma contradição, mais uma incoerência dele dizer que faz um governo sem o ‘toma lá dá cá’. Em pouco mais de um ano, vejo a decadência no combate à corrupção”, acrescentou Styvenson, citando interferência em órgãos de fiscalização e combate à crimes, como a Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) e a Polícia Federal.
“Ele (Bolsonaro) não mostrou às pessoas esse eficiente combate à corrupção que ele tanto pregou. Pegou uma carona muito grande na Lava Jato. Se a Lava Jato não tivesse prendido Lula, estaríamos ainda na mesma república brasileira”, afirmou.
Atuação parlamentar
“Não tenho nenhum prefeito de estimação, que é aquele cara que dá voto na campanha. Como não tenho, tenho liberdade para trabalhar”, disse Styvenson quando perguntado sobre a destinação de recursos para muitos municípios do Estado. “Destinamos quase R$ 29 milhões para a saúde e educação, principalmente”, listou.
E o senador ainda cobra transparência com o gasto destes recursos. “Tenho até que ameaçar para ter a prestação destas contas. Se não comprovar, ele não vai mais receber. Perca nem tempo. O critério vai ser transparência”, disse.
Sobre o método que utiliza, Styvenson revelou que recebe muitos vídeos que mostram a situação de escolas, ônibus escolares e hospitais pelo interior potiguar. “Tento tratar por igual todos os municípios. Uso muito as redes sociais, assim como usei na campanha”, destacou.
Sessões virtuais
“É uma diferença imensa. Tem a comodidade de estar em casa, mas é ruim de não estar presente fisicamente com outros senadores e poder discutir, pedir uma questão de ordem e poder ser atendido, de poder discordar. Já no remoto, tem muito atropelo. É o que chamamos de ‘tratorar’, que é passar o trator por cima. Você fica falando e ninguém te escuta. Muitos lançam projetos que estão fora da pauta do momento, que é a pandemia”, frisou.
Economia no gabinete
“Eficiência parece um palavrão no serviço público. Até pouco tempo eu era um PM que andava em uma viatura sucateada. Venho de uma instituição muito carente, com escassez. No Senado, é tudo muito fácil. Um céu de privilégio. O que eu busco é ser eficiente. Fiz processo seletivo para contratar cargos para o meu gabinete, e muitos se mostraram preguiçosos. Tinha 13 e demiti 9”, revelou.
Styvenson disse que também faz economia com passagens aéreas, na alimentação, e que, sempre que é possível, come em restaurantes mais baratos. “Economizei em meu gabinete R$ 4 milhões em 15 meses. Meu projeto é que essa economia volte para o Estado como emendas para a saúde, educação. Mas recebo críticas dos amigos, que eu deveria usar os 50 cargos que tenho direito. Na tribuna, muitos pedem para reduzir gastos, ser mais severo, mas ninguém faz isso. R$ 4,5 bilhões por ano o Senado custa ao povo brasileiro”, ressaltou.
Abuso de preços
Por fim, o senador destacou um projeto de sua autoria que busca evitar o abuso de preços sobre os produtos de combate a grandes tragédias sociais. “Tragédias ou problemas sociais que freiam a economia. O objetivo é evitar que as pessoas abusem ou se aproveitem da situação de tragédia. Aumentam o preço da água, do gás, como fizeram em Brumadinho. E isso estamos vendo agora, com respiradores, máscaras, produtos como álcool gel. O ser humano que ganha dinheiro com a desgraça humana deve ser preso”, concluiu.
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