Enquanto a Secretaria Municipal de Administração (Semad) revê o processo de licitação para o controle de estacionamento pago nas vias públicas de Natal, uma categoria de trabalhadores informais anda preocupada.
“Como é? Esse negócio vai funcionar mesmo?”, pergunta, incrédulo, Tiago Silva, de 35 anos, que está há pelo menos 12 no mesmo ponto em Petrópolis, onde mantém uma clientela fixa de carros que lhe rende em média R$ 50,00 todos os dias. E bem mais do que isso em eventos públicos.
O modelo a ser adotado na cidade, num prazo ainda indeterminado, prevê a abertura de mais de 2 mil vagas rotativas para veículos em bairros comerciais. E essa é uma conta que não fecha para Tiago. “Com a prefeitura concorrendo com a gente, acabou”, diz.
Numa cidade onde a maioria dos estacionamentos serve a quem trabalha ou estuda no local onde deixa o carro, o grande problema é que as vagas nunca existem para quem deseja apenas fazer uma compra ou resolver um problema.
Pode-se dizer que Tiago integra uma minoria bem-sucedida, já que trabalha numa rua mais arborizada, frequentada por gente de classe média que precisa desesperadamente estacionar seu carro para trabalhar.
A poucos metros dali, numa via mais movimentada de comércio, porém, a situação é bem diferente, pois o número de clientes de lojas com carros é maior do que de funcionários, e a ideia de rotatividade funcionaria melhor.
Já não é o que acontece no Alecrim, onde a maioria das vagas é tomada logo cedo pelos empregados de lojas e ambulantes. Segundo a associação das empresas de lá, essa situação já fez o bairro perder 40% de sua frequência na comparação com poucos anos atrás. Essa diferença acaba favorecendo principalmente os shoppings centers da cidade.
A preocupação do guardador Tiago é mais objetiva. “A Prefeitura vai poder pagar o que a gente ganha se nos contratar para trabalhar nessa tal Zona Azul?”, ele pergunta, emendando logo em seguida: “Porque, se acontecer isso (os estacionamentos rotativos pagos), ninguém vai dar nem mais um tostão gente, nem os comerciantes”.
Conscientização
Não existe um número oficial de quantos flanelinhas ganham a vida nas ruas de Natal. Nem os agentes de trânsito, como Alexandre Nascimento, que trabalha de moto, arrisca um palpite. Mas ele opina: “Vai dar muito trabalho para conscientizar as pessoas”.
Problemas com os flanelinhas ele diz ter pouco, exceto durante shows públicos, quando é comum eles cobrarem adiantado um preço para lá de salgado das vagas, que são em áreas públicas. “Aí os motoristas reclamam porque isso é extorsão e dá até a condução de guardador para a delegacia”, diz.
Outro problema que dá muita confusão, segundo ele, é o estacionamento proibido induzido pela ação do flanelinha.
“O sujeito deixa o carro na confiança que não vai tomar multa. Vem o agente de trânsito e multa. Aí o guardador esconde o papel da infração do motorista, já que, se ele soubesse, não pagaria o guardador e ficaria muito bravo. Pronto: confusão armada”, diz o agente de trânsito.
Zona Azul, o que falta?
A concessão para estacionamento nas ruas da capital é debatida desde fevereiro do ano passado. As áreas disponíveis para a guarda temporária de carros e motos serão dispostas em cinco bairros – Alecrim, Cidade Alta, Tirol, Petrópolis e Ribeira.
O atual certame contempla ainda a manutenção e gerenciamento de um sistema para venda e administração de créditos – por meio de um software – para o controle das vagas rotativas de estacionamento. Além disso, delimita também o fornecimento, instalação e manutenção de sinalização vertical e horizontal dos espaços.
Quando for implantado, o sistema funcionará todos os dias, das 8 às 18 horas, e aos sábados das 8 às 13 horas inicialmente nas Avenidas 1 parte e 2, no Alecrim; Campos Sales, Rodrigues Alves, paralelas de Petrópolis; Duque de Caxias, na Ribeira e Deodoro da Fonseca, no centro, também estão na mira do projeto.
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