O ex-governador Robinson Faria, do PSD, publicou nesse domingo, 27, um texto nas redes sociais dirigido ao povo do Rio Grande do Norte. O escrito intitulado ‘Gratidão ou Ingratidão’ é repleto de referências bíblicas e faz uma espécie de prestação de contas da gestão, com a citação de algumas obras de governo, e também uma explicação para um dos maiores problemas: a inadimplência com a folha salarial dos servidores. Por outro lado, outro ponto bastante questionado do mandato, a segurança pública, não foi abordado.
Para a questão dos atrasos salariais, Robinson Faria disse que “só tinha duas escolhas para tomar”. “A primeira seria a mais cômoda”: “Seria demitir 20 mil servidores, e assim teria governado os quatro anos sem atraso”. De acordo com o ex-governador, ele escolheu a segunda opção: “Não demitir e lutar, perseverar e esperar um apoio da União, que foi dado a outros estados e aqui nunca chegou”.
Leia na íntegra:
Gratidão ou ingratidão?
Depois de 32 anos de vida pública, exercendo mandatos eletivos até chegar ao cargo de governador, em 2015, numa eleição que as pessoas denominaram “a vitória do impossível”, tomo a liberdade de fazer com vocês uma reflexão de um dos sentimentos mais nobres do ser humano que é a “gratidão”.
Deus nos deu o livre arbítrio para que pudéssemos escolher os nossos próprios caminhos. O tema “Gratidão ou Ingratidão” há muito vem sendo discutido por filósofos, poetas, escritores e até na Bíblia Sagrada, por Davi, que desabafa com Deus sobre a ingratidão no salmo 41, onde daqui a pouco farei menção.
Santo Agostinho falou muito sobre a ingratidão, comentando que é a maior fraqueza do homem. Enquanto que a gratidão é a maior das virtudes. Alguns poetas escreveram que a ingratidão é o câncer da alma; e outros que a gratidão é a memória do coração.
É bom lembrar que Jesus curou dez leprosos e apenas um voltou para agradecer.
Voltando a Davi, no salmo 41, ele indagava a Deus num tom de decepção e desabafo: “Eles dizem assim: ele está muito mal mesmo e não vai se levantar mais”. Davi continua “Até o meu melhor amigo, em quem eu tanto confiava, aquele que tomava refeições comigo, até ele se virou contra mim”.
Em outro momento, Davi também desabafou: “Todos os que me odeiam falam de mim, cochichando e pensam que o pior vai me acontecer”. E chega o momento de maior angústia, e pergunta a Deus: “Os meus inimigos falam mal de mim e perguntam: Quando será que ele vai morrer e ser esquecido?”
Quero deixar claro que essa narrativa que divido com vocês não tem motivação política, assim como não reflete o fato de não ter sido vitorioso na última eleição para o governo.
Tenho consciência de que procurei governar cumprindo o juramento que fiz a Deus: “Governar para os que mais precisam”. Me orgulho do RN ser o estado que hoje tem o maior programa de acesso à alimentação do Brasil, oferecendo mais de um milhão de refeições, num preço simbólico de 1 real, saciando a fome de milhares de desempregados. O Transporte Cidadão, oferecendo transporte gratuito para doentes crônicos, pessoas com necessidades especiais, idosos. Somos o único estado do Brasil que oferece esse serviço.
Sei que muitos vão falar: “Mas Robinson deixou atrasar o pagamento do servidor”.
Quero pedir a sua paciência para uma reflexão, com honestidade e sem o calor da batalha eleitoral.
Como governador, infelizmente, só tinha duas escolhas para tomar. A primeira seria a mais cômoda, mais fácil, vamos chamar assim, que seria demitir 20 mil servidores, e assim teria governado os quatro anos sem atraso.
A outra opção, que foi a que escolhi, não demitir e lutar, perseverar e esperar um apoio da União, que foi dado a outros estados e aqui nunca chegou. Vocês sabem que não tive apoio político, muito pelo contrário, fui boicotado por aqueles que derrotei em 2014, quiseram me enfraquecer para voltar ao poder. Eu sabia que a minha decisão de não demitir me levaria ao atraso salarial e, por consequência, ao gigantesco desgaste político.
Mas a noite, quando vou dormir, não imagino a cena de um pai ou uma mãe, uma enfermeira, um policial, um médico e tantos outros servidores chegando em casa e falando pra família: “Estou desempregado, não sou mais servidor do Estado”. Essa culpa eu não levo.
Fui aconselhado por muitos a demitir os servidores. Vários governadores demitiram e foram reeleitos. Falaram também: “Governador, o estado tem três milhões e quinhentos mil habitantes, não serão vinte mil que irão derrotá-lo.
Vejam, meus amigos, o que vivi, o que passei sentado naquela cadeira solitária com a caneta na mão para assinar as demissões.
Tomo hoje a liberdade para abrir o coração, com toda a fé que Deus me deu, que para mim a escolha estava na ambição de um novo mandato ou no coração de não castigar milhares de pais, mães e filhos.
Falam que governar não pode ter coração. Não vejo dessa forma, sei que a minha escolha custou a minha derrota. Os servidores não entenderam, não compreenderam que eu estava garantindo o futuro deles.
Perdi a eleição, mas não perdi a dignidade, a gratidão, o sentimento de justiça!
O coração venceu a ambição, essa é a grande vitória.
Se Deus e o povo anônimo me deram a missão de governar o RN, no momento mais difícil da sua história, é porque Deus conhecia o meu coração.
Lembro que o povo até comentou que a minha vitória em 2014 foi semelhante à de Davi contra Golias.
Não fui eu quem quebrei o RN. Não fui eu quem quebrei o Brasil. Não fui eu quem quebrei a Petrobras, que era um braço forte da nossa economia. Recebi o estado mais falido do Nordeste. Também não tive culpa do meu governo ter enfrentado a maior seca dos últimos cem anos, dizimando o setor primário e contribuindo para abalar ainda mais as nossas finanças.
Mas nunca desanimei, sabia que seria o governo do impossível, da superação, da perseverança e da esperança. Mesmo com todas as tempestades que enfrentei, com coragem e humildade, combatendo o bom combate, deixo um legado de mais de 1.300 obras, em diversas áreas, como por exemplo na saúde com a construção de 160 leitos de UTI acabando com a fila da morte. Hospitais regionais que esperavam décadas por cirurgias ortopédicas para não dependerem mais do Walfredo Gurgel, em Natal. Pau dos Ferros, Caicó, Currais Novos, Macaiba, Parnamirim, o novo Hospital da Polícia Militar com vinte novos leitos de UTIs, com a reforma e ampliação, o hospital saiu de 60 para 130 leitos, aumentamos o tamanho em seis vezes.
E tantas outras obras esperadas há décadas como o Anel Viário Metropolitano, a Moema Tinoco, a Estrada da Castanha em Serra do Mel, o aeroporto comercial de Mossoró já com voo da Azul.
O resgate do turismo gerando milhares de empregos, o novo Centro de Convenções de Natal, que passou de 6 mil para 13 mil lugares. Temos hoje o Centro de Convenções mais bonito do Brasil.
Enfim, poderia ficar aqui prestando contas de obras históricas, mas deixo o tempo, que é o senhor da Verdade, tocar o coração dos norte-rio-grandenses.
Voltando ao tema “Gratidão”, só tenho a agradecer a Deus, aos meus seis filhos que Deus me deu, ao povo amigo do RN que me deu a missão de ser o seu governador em 2014.
Terminando aqui a nossa conversa, confesso que escrevi do começo ao fim com os olhos tomados de lágrimas. Tive que parar algumas vezes para rezar, me recompor e pedir a Deus inspiração!
A minha contribuição depois de ter sofrido na alma a dor da ingratidão muitas vezes.
Nunca percam dentro de si o sentimento da gratidão, mesmo que não seja retribuído. Deus estará vendo o seu coração, é Ele quem nos julgará.
Peço desculpas pelos meus erros, continuo aqui torcendo pelo nosso Rio Grande do Norte.
Amo todos vocês. Que Deus abençoe a todos!
Muito obrigado!