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quinta-feira, 10 de maio de 2018

Empresária confirma que recebeu da JBS pagamento por serviço prestado na campanha de Robinson Faria em 2014

Segundo a empresária, JBS pagou R$ 1,2 milhão referente a serviços prestados na campanha de Faria ao governo do RN. Pagamento não consta na prestação de contas da campanha.


empresária Eliane Alves Pereira confirmou à Polícia Federal que recebeu da empresa JBS o pagamento de serviços prestados na campanha de Robinson Faria ao Governdo do Rio Grande do Norte em 2014. A empresária, dona da E. A. Pereira Comunicação Estratégica, entregou à PF uma nota fiscal no valor de R$ 2 milhões emitida para a JBS S/A.
Segundo ela, deste valor, R$ 1,2 milhão é referente ao trabalho de marketing direto na campanha política e o restante é referente a serviços prestados à marca Friboi, da JBS. O valor total foi pago em setembro de 2014 por meio de depósito na conta da empresária. O pagamento não consta na prestação de contas da campanha de Robinson Faria.
"Ela foi contratada para prestar um serviço de marketing e esse serviço foi efetivamente prestado. Se houve uma prestação tinha que haver o recebimento de valores. (...) Se houve um possível caixa 2 isso deve ser apurado pelo Poder Judiciário que é o juízo competente para apurar os fatos", disse o advogado da empresária, Marcelo Torres.
A informação confirma parte da delação premiada de Ricardo Saud, ex-diretor de relações institucionais da J&F, grupo controlador da JBS. O executivo afirmou que fez doações não declaradas à campanha de Robinson Faria através de pagamentos a empresas de terceiros, dentre elas a de Eliane.
Em nota, Robinson Faria afirma que não recebeu doações não declaradas para a sua campanha nas eleições de 2014 e que jamais solicitou qualquer doação ao delator Ricardo Saud que não fosse doação legal. "As doações solicitadas à JBS foram todas pedidas oficialmente, já que a JBS era a empresa indicada pelo partido PSD para fazer as doações para a campanha ao governo em 2014", diz a nota. O governador afirmou ainda que "as contas da campanha foram todas aprovadas pelo Tribunal Regional Eleitoral e que confia no trabalho da Justiça".
As declarações da empresária foram tomadas pela PF em março deste ano nas investigações complementares do inquérito 4618, no Supremo Tribunal Federal, para confirmar a delação de Saud. No último dia 26 de abril, Saud foi ouvido pela Polícia Federal, em Brasília, neste mesmo inquérito. Ao deixar a PF, Saud disse à imprensa que foi um 'depoimento do dia a dia da colaboração'.
Reunião em SP
A empresária relatou que foi contratada pela campanha de Robinson Faria e cobrou R$ 1,2 milhão para prestar o serviço de marketing direto no 1° turno da campanha. Segundo ela, o trabalho foi efetivamente realizado e envolveu entre 200 e 250 pessoas.
Ainda de acordo com Eliane Pereira, o serviço prestado à campanha envolvia estratégia de comunicação, geolocalização, "porta a porta" e mensuração de dados e relatórios de análise. O trabalho começou antes de qualquer assinatura de contrato e pagamento - o que seria praxe em campanhas políticas, segundo ela.
Conforme o depoimento, a empresária cobrou o valor da primeira parcela do pagamento, mas foi informada que a campanha estava sem dinheiro. Então foi informada que teria que ir para São Paulo para apresentar a importância do seu trabalho na campanha a um doador.
O doador em questão era o próprio Ricardo Saud e o encontro aconteceu na sede da JBS, em São Paulo. Eliane afirmou que foi levada à reunião pelo deputado federal Fábio Faria (PSD), filho de Robinson, que estava envolvido na campanha do pai.
Ao apresentar o trabalho desenvolvido na campanha, Eliane afirmou que foi elogiada por Saud e que ele quis que um serviço semelhante fosse feito para a marca Friboi, da JBS, em estados da região Nordeste. Neste mesmo dia, foi feito um contrato de R$ 2 milhões, que contemplava os dois trabalhos: a campanha política e o serviço contratado pela JBS. O contrato, porém, não citava a campanha. O pagamento foi feito em setembro de 2014.
Eliane ainda disse que questionou a formatação do contrato e o fato de Ricardo Saud não assiná-lo. Ele, porém, teria dito que essa era a única forma do serviço ser pago. Como o trabalho já estava em andamento, ela disse que aceitou, pois seria "a única forma de cumprir com os compromissos financeiros" com a equipe e os fornecedores.
G1 procurou o deputado Fábio Faria, mas ele não se pronunciou até a última atualização desta matéria.
Delação
Em acordo de delação firmado com o Ministério Público Federal em 2017, o executivo da J&F (grupo que controla a JBS) Ricardo Saud afirmou que Fábio Faria e Robinson Faria receberam doações não declaradas à Justiça Eleitoral através de pagamentos a empresas de terceiros.
Acordo suspenso
O acordo de delação premiada de Ricardo Saud com o Ministério Público Federal foi rescindido pela Procuradoria Geral da República em setembro do ano passado por suposta omissão de informações nos depoimentos.
Como a rescisão depende de decisão do ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no STF, o acordo está, na prática, suspenso.
A suspeita da PGR é que Saud e Joesley Batista, dono do grupo J&F, omitiram a informação de que foram orientados pelo procurador da República Marcelo Miller enquanto ele ainda atuava no Ministério Público. Saud, Joesley e Miller negam a acusação.

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