O médico-cirurgião que acompanha o quadro do presidente desde que ele sofreu um atentado a faca em 2018, Antônio Luiz Macedo, chegou ontem ao hospital, na Zona Sul de São Paulo, por volta das 6 horas da manhã. O profissional estava de férias nas Bahamas e voltou ao País em um avião privado. Ontem, ele havia dito ao Broadcast Político que faria uma avaliação clínica “criteriosa” em Bolsonaro para decidir se haveria ou não a necessidade de operação.
De acordo com Bolsonaro, ele começou a passar mal no domingo, 2, em São Francisco do Sul (SC), onde passava as férias desde o dia 27 de dezembro. Devido ao desconforto abdominal, o presidente deixou o litoral catarinense de helicóptero em direção a Joinville na madrugada de ontem. De lá embarcou para São Paulo com a comitiva presidencial.
Bolsonaro havia dado entrada no Vila Nova Star pela última vez em julho de 2021, quando também sentiu dores abdominais e ficou quatro dias no hospital para tratar do mesmo problema. Na ocasião, não precisou ser operado. O presidente já realizou seis cirurgias em decorrência do atentado a faca sofrido em 2018 em Juiz de Fora, Minas Gerais.
O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) afirmou ontem que seu pai, o presidente Jair Bolsonaro, pode receber alta da equipe médica "a qualquer momento". "Ele, a qualquer momento, pode ter uma liberação por parte da equipe médica, que é quem pode obviamente falar em definitivo sobre quando ele vai sair do hospital", afirmou o filho mais velho do presidente, em entrevista à CNN Brasil.
O boletim médico divulgado pela manhã informou que a obstrução intestinal de Bolsonaro se desfez e que não há indicação de cirurgia para corrigir o problema.
Flávio disse que conversou com Bolsonaro e afirmou que o presidente estavam "bem-humorado e bem-disposto". O filho "01" também declarou que o presidente terá de conviver com as sequelas do atentado a faca que sofreu em 2018, durante a campanha eleitoral, pelo resto da vida. "Ele vai ter de ter uma restrição alimentar permanente. Ele tem que ter uma rotina de alimentação que é difícil na vida pública."
De acordo com o senador, a tendência é que o próximo passo seja a retirada da sonda nasogástrica do presidente e que, depois, quando o intestino voltar a funcionar completamente, ele receba alta.
Bolsonaro deu entrada no Vila Nova Star na madrugada de ontem, após sentir desconforto abdominal em São Francisco do Sul (SC), onde passava as férias desde o dia 27 de dezembro. O presidente deixou o litoral catarinense de helicóptero em direção a Joinville e, de lá, embarcou para São Paulo com a comitiva presidencial.
O presidente usou sua conta oficial no TikTok, ontem, para publicar uma foto no leito hospitalar sendo atendido pelo médico-cirurgião Antonio Luiz Macedo. Priorizar o uso desse aplicativo é incomum no caso do presidente, que prefere Twitter, Facebook e Instagram para informar seus seguidores.
Na sequência, a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, divulgou em suas redes uma foto do presidente andando pelos corredores do hospital. Desde que Bolsonaro chegou ao hospital, nem a Secretaria Especial de Comunicação Social (Secom), ou a assessoria do hospital confirmou se a Michelle ou outro familiar acompanha o presidente.
'Restrição alimentar será permanente'
A dieta tem impacto direto em casos como o do presidente Jair Bolsonaro, destacam especialistas ouvidos pela Agência Estado. O quadro de obstrução intestinal - que o presidente já havia apresentado em julho - ocorre quando há aderência entre alças do intestino, impedindo a passagem adequada dos alimentos. A sucessão de cirurgias às quais o mandatário já se submeteu em função da facada favorece o surgimento de aderências.
"Ele tem essas aderências porque foi muito manipulado anteriormente com cirurgias intra-abdominais", explicou o médico Marcelo Borba, coordenador do Núcleo de Doenças Inflamatórias Intestinais do Hospital Sírio-Libanês. "Nesses casos, tem de fazer uma certa dieta, por exemplo, evitar alimentos que fermentam muito, como leite, ou que são muito fibrosos e de difícil digestão, por exemplo, vegetais e legumes."
A médica Renata Fróes, doutoura em gastroenterologia pela UERJ e titular do grupo de doenças inflamatórias intestinais do Brasil (GEDIIB), explica que esses alimentos podem gerar um bolo fecal maior, dificultando a passagem pelo intestino. Ela também cita a carne como um alimento a ser evitado, principalmente na fase aguda do quadro clínico. No dia a dia, a médica afirmou que, em geral, o consumo de carne pode ser feito em pedaços pequenos e bem mastigados. No caso do consumo de gorduras, como citado pelo Flávio, a médica explica que, em geral, "o consumo de gorduras não tende a piorar o quadro, mas cada organismo responde de uma forma individual".
Segundo Borba, a quantidade de alimento ingerido também pode ter impacto. "Quem tem essas aderências e come muito pode ter obstruções também, uma vez que aumenta o fluxo de alimento no intestino", disse Borba. "O importante é ter um acompanhamento nutricional. O que fazer nesse caso é tratar e, eventualmente, operar quando for muito necessário."
O ideal é evitar a intervenção cirúrgica porque ela pode provocar novas aderências. Segundo o especialista, o que pode acontecer é ele entrar num looping de operar-obstruir. "Quanto mais se opera, mais cria aderências e mais difícil fica passar a comida." A cirurgia só seria indicada em casos de obstrução total e quando não é possível resolver clinicamente. Bolsonaro foi diagnosticado com uma suboclusão, quando há obstrução é parcial.
Renata Fróes explica que a dor nesse quadro clínico ocorre porque há uma dilatação no intestino na parte anterior da obtrução, por causa do acúmulo do bolo fecal. "Quando há a dilatação, os nervos e a circulação sanguínea são comprimidos, o que causa a dor", diz.
Para lidar constantemente com esse quadro, a médica explica que são necessárias três condutas: alimentação orientada por nutricionista, beber bastante água e praticar exercícios físicos. "A água é emoliente e faz a comida escorregar; enquanto o exercício físico fortifica a musculatura abdominal, o que faz com que as fezes passem mais facilmente pelo local obstruído", disse.
Flávio contou ainda que o chefe do Executivo tem dificuldades para seguir uma rotina alimentar adequada, dado que sua agenda não permite prever horários fixos para alimentação. “As coisas acontecem de forma dinâmica e ele precisa ficar mudando sua programação, o que dificulta tomar café, almoçar, comer à noite”, disse.