Calçadão da Praia de Ponta Negra, principal cartão-postal da capital potiguar, é uma desafio para os banhistas: buracos e acessos improvisados geram reclamações
A reportagem da TRIBUNA DO NORTE foi até a Praia de Ponta Negra e a Praia do Meio e constatou problemas graves de acessibilidade e na manutenção dos equipamentos públicos.
Como principal cartão postal da cidade, a praia de Ponta Negra reúne tanto turistas conhecendo o local quanto natalenses aproveitando o período do veraneio. Esse foi o caso de Keila Marques, natural de Natal, que trouxe seus filhos e sua mãe para curtir um dia na orla tão conhecida — e cartão-postal da cidade. Sobre as condições estruturais da praia, Keila apontou alguns problemas que considera crônicos.
“Gosto muito de frequentar aqui, mas ultimamente estou preferindo não vir com as crianças por causa da situação de poluição que está bem complicada. A praia infelizmente é suja, não tenho coisas boas para falar desse lugar que é um paraíso mas não está sendo bem cuidado. As vezes, eu prefiro ir para uma lagoa ou uma praia mais distante do que a nossa que é tão pertinho de onde moro. Em todo o trajeto, aqui não tem segurança, no calçadão é sempre um risco”, relata.
Do mesmo modo, Anne Lima apontou a condição estruturante do calcadão como algo bem negativo para a experiência no local. Também natalense, Anne já mora fora da cidade por muitos anos e volta como turista para curtir as férias no litoral potiguar.
“Quando eu fui embora de Natal, a praia já estava assim com problemas. Lembro que tinha caído um pouco do calçadão e agora vejo que está do mesmo jeito, não teve nenhuma mudança. Pelo menos, não notei melhorias e eu acho que essa questão da acessibilidade para os turistas que não tem condições também de trafegar devia ser algo trabalhado com prioridade”, diz.
Turista de Pernambuco, Patricia Oliveira sempre procura visitar Natal quando pode por considerar a cidade linda e o povo muito hospitaleiro. No entanto, comenta que a Praia de Ponta Negra perdeu um pouco de seu brilho nessa visita.
“Na primeira vez que eu vim pra cá me apaixonei, o Morro do Careca é deslumbrante. Só fiquei triste porque hoje vejo muita aglomeração e alguns usuários de droga. Estou evitando ficar mais perto do Morro por segurança e para preservar meus filhos. Vemos que tem bastante obra, tá complicado subir da praia para o calçadão, a estrutura não está boa e cansamos muito. Mas como positivo, fomos abordados por guarda-vidas com orientações sobre as condições de banho e achei isso bem interessante”, aponta.
Ponta Negra desafia acessibilidade
Carlito Santiago trabalha como quiosqueiro em Ponta Negra e reclama da infraestrutura da região. Sem acesso à praia, ele precisou construir uma escada com corda e sacos de areia que também é usada pelos banhistas. “Fazemos isso por falta de estrutura, tem que melhorar muito a questão das escadas, as pedras têm muito ratos. Os banheiros estão abandonados, até tentamos tomar conta mas fica muito sujo e não tem condições. Na minha opinião, Ponta Negra está abandonada, infelizmente não temos boas estruturas aqui”.
O ambulante conta que já chegou a cuidar da manutenção do banheiro público perto do seu local de trabalho e pela limpeza e produtos de higiene cobrava R$2 pelo uso. Entretanto, um fiscal da Prefeitura impediu a atividade e o banheiro foi liberado para uso gratuito. Segundo Carlito, dias depois a torneira e sanitário estavam quebrados, e desde então não houve nenhum tipo de manutenção foi realizada.
Na Praia do Meio, a situação é ainda mais precária, com banheiros completamente vandalizados de acordo com Maria Odete Moraes, turista no local. Maria diz que prefere a Praia do Meio por ser um lugar lindo e calmo mas enfatiza a má condição dos banheiros. Para ela, não dá nem para entrar. “O problema principal é esse e a falta de segurança, não tem nem como usar e se trocar lá, o banheiro está todo quebrado. Também era para ter mais policiais, se eu não me engano teve um feriado com um assalto bem aqui na frente. Se tivesse mais policiamento, isso poderia ser evitado”, comenta.
Prefeitura estuda solução para os banheiros
Responsável por esses equipamentos públicos, a Secretaria Municipal de Serviços Urbanos (Semsur) informou que até o início de 2020, os banheiros eram administrados por uma empresa terceirizada. Após constantes atos de vandalismo, incluindo ainda ameaças aos administradores e, até mesmo, casos de sequestro de zeladores, a empresa fez o distrato do contrato e os banheiros voltaram a ser geridos pela Prefeitura. Ao todo, as praias urbanas de Natal contam com 14 banheiros na sua orla. São seis conjuntos (feminino e masculino) em Ponta Negra, outros seis na Praia do Meio e mais dois na Redinha.
“A Semsur está estudando um meio viável de manter esses equipamentos funcionando em bom estado sem que haja ônus aos cofres do município. Antes da privatização, a prefeitura tinha um gasto anual de cerca de R$ 200 mil para reparos provenientes de vandalismo e furtos nesses equipamentos. Além disso, desde que a Secretaria reassumiu a administração dos banheiros, tendo em vista o aumento da incidência de furtos e vandalismo - bem como o aumento do preço dos materiais utilizados para reposição - a pasta constatou um gasto de R$ 400 mil em 2021 apenas em manutenção”, esclareceram em nota enviada à reportagem.
Além disso, a Semsur explicou que visando não prejudicar a população buscou uma parceria com os comerciantes locais, enquanto o estudo de otimização, administração e uso dos banheiros das praias não é concluído. Os banheiros seguem disponíveis ao público, porém é necessário que o cidadão solicite a chave aos quiosqueiros que atuam ao lado dos banheiros.
Sobre as condições estruturais, a Secretaria Municipal de Obras Públicas e Infraestrutura (Semov) esclarece que trabalha anualmente na conservação das praias urbanas de Natal. “Nosso contrato de manutenção abrange as estruturas de proteção costeira e os calçadões de Ponta Negra e praias do Centro como a Praia do Meio e dos Artistas. Atualmente, nosso orçamento para a conservação de 4 km de enrocamento e estrutura de urbanização é de aproximadamente 3 milhões de reais”, explicou o secretário adjunto, Diogo Alexandre.
Atualmente, a Semov foca esforços em uma obra de reparo no trecho final (sentido Via Costeira) do calçadão de Ponta Negra. O secretário pontua que tais reparos são necessários devido a eventos de maré ou problemas de chuvas que causam danos a infraestrutura. Segundo ele, os serviços para reconstrução fogem do escopo de conservação e manutenção. “A proteção costeira para os 2km finais da Praia de Ponta Negra está em fase de licitação. Acreditamos que em 60 dias no máximo o processo de contratação seja encerrado e entre na etapa de execução das obras”, finaliza.