Ministro chega a ultrapassar índice de figuras políticas nacionais na pandemia do coronavírus
Alheio às polêmicas do presidente Jair Bolsonaro até o início deste ano, o
ministro Luiz Henrique Mandetta (Saúde) tem aumentado sua popularidade
na internet durante a pandemia da Covid-19.
A expansão, em parte previsível diante da crise sanitária, é
impulsionada também pelos embates que o chefe da pasta protagoniza com o
presidente da República.
Antes uma figura morna, Mandetta ultrapassou figuras que buscam
manter visibilidade política, como o governador de São Paulo, João Doria
(PSDB), o ex-presidente Lula (PT) e o apresentador Luciano Huck,
possível presidenciável em 2022.
A análise é da consultoria Quaest, que acompanhou o movimento nas redes de 26 de fevereiro a 4 de abril.
A empresa elaborou um índice comparativo de 0 a 100 a partir de
variáveis como número de seguidores, volume de comentários, reações
positivas e engajamento nas redes sociais. Buscas na enciclopédia online
Wikipedia e no Google também foram consideradas.
Desde o início do monitoramento, o índice de Mandetta aumentou 189%, o
maior crescimento, enquanto Lula teve queda de 30%, Huck, de 46%, e
Bolsonaro se manteve estável, no topo.
A ascensão digital do ministro da Saúde ganha força a partir de 11 de
março, quando a OMS (Organização Mundial da Saúde) declara que há uma
pandemia do novo coronavírus. A partir de então, o índice parece
acompanhar os conflitos entre ele e Bolsonaro.
Em 15 de março, quando Mandetta passou Lula pela primeira vez, o
presidente se juntara a manifestantes aglomerados em frente ao Palácio
da Alvorada. O ministro o repreendeu: “É ilegal? Não. Mas a orientação é
não. E continua sendo não para todo mundo”, disse, em entrevista.
Quando disse que "médico não abandona paciente", atingiu seu pico —um
índice de 51,4. No dia anterior, Bolsonaro (com índices próximos de 70 a
80) havia declarado, em entrevista à rádio Jovem Pan, que lhe faltava
humildade.
Já Lula, que enfrenta queda brusca, a partir do meio de março
conseguiu índices acima de 35 em apenas cinco dias, chegando a, no
máximo, 43,1. O início do período, no dia 19, coincide com a publicação
de um vídeo do ex-presidente em que ele fala sobre a crise e critica
Bolsonaro.
A popularidade digital de Mandetta ultrapassa a de Huck a partir de
23 de março —o apresentador, desde então, cai e não alcança nem 35 no
índice da consultoria Quaest.
Com os patamares mais baixos entre essas figuras nacionais (pico
inferior a 18), Doria pode parecer estagnado. Mas o tucano, que tem
pretensões de concorrer à Presidência em 2022, foi o que mais cresceu
entre os governadores —26,9%. Atrás dele, o índice do governador do
Maranhão, Flávio Dino (PC do B), cresceu 24,8%.
Para o coordenador da pesquisa, Felipe Nunes, Doria não cresceu mais
porque Mandetta apareceu. "Se o Mandetta não tivesse surgido, o Doria,
com certeza, seria um nome nacional a se contrapor a Bolsonaro", afirma.
"O mercado político é limitado. Não dá para todo mundo crescer com o
mesmo tamanho."
Além disso, a crise acaba favorecendo líderes nacionais com mais
poder de execução. O baixo crescimento de Lula e Huck também se deve a
esse fator. O apresentador, que parece ter escolhido se recolher,
despenca. É quem tem a maior taxa de queda: 46,4%.
Liderando, Bolsonaro só viu o seu índice cair no dia 24 de março,
depois de pronunciamento de ataque a governadores e medidas de
isolamento. Mas o presidente logo se recupera.
Para Nunes, ele pode ter perdido seu eleitor pragmático e pouco
ideológico, que viu irresponsabilidade em sua postura. Por outro lado,
ele pode estar caminhando para tornar ainda mais coesa a sua fiel base.
"É arriscado porque ele perde um pedaço, mas em contraposição ele
unifica ainda mais. E isso se deve ao fato de que a sua rede volta a
ficar coesa em torno da defesa de sua agenda política", afirma.