Para qualquer cidade cuja Revisão do Plano Diretor esteja em curso, o arquiteto português Manuel Salgado, atual presidente da Sociedade de Reabilitação Urbana de Lisboa (SRU), tem um conselho precioso: saber qual será o papel da cidade no futuro.
Nesta quarta-feira (12), durante o Seminário Internacional Agora Natal, coube a Salgado encerrar as palestras do evento, falando sobre as mudanças dramáticas vividas pela capital portuguesa do ponto de vista social e urbanístico.
Entre as inúmeras conclusões, é que as cidades não precisam apenas expandir às custas de lançamentos imobiliários, mas recuperar áreas maduras, atraindo populações num processo de adensamento crescente, onde áreas venham a ser requalificadas a partir da mistura de funções como a residencial e comercial.
Um dos programas mais bem sucedidos da capital portuguesa foi a implantação de uma praça em cada um dos 150 bairros da cidade de Lisboa.
Nesse caso, Salgado explica que a participação dos moradores de cada localidade foi fundamental, pois foi a partir de reuniões com eles que se definiu a vocação de cada espaço vazio.
Durante a fase de debates com o público, que se seguiram às palestras, Manuel Salgado sugeriu que apesar de contar com o apoio de governos, as mudanças na ocupação de espaço nas cidades também seguir caminhos espontâneos, mediante os quais as comunidades devem propor livremente o que desejam e os administradores devem ter a sensibilidade de pôr no papel e na prática algumas dessas tendências.
Por fim, Salgado disse que uma nova “carta estratégica” – é assim que se chama em Portugal – está sendo preparada para redirecionar os rumos do crescimento urbano lisboeta.
Um dos pontos tocados pelo palestrante que mais chamaram a atenção referiu-se a proatividade que todo o gestor público deve ter no processo de ocupação do solo urbano.
“Não basta que ele seja apenas um cumpridor de normas; ele deve ter a sensibilidade para unir interesses para criar investimentos nos locais onde esse interesse maior”, lembrou.
Manuel Salgado sugeriu também uma linha de incentivos por parte do poder público para que pessoas venham adensar áreas, por meio de tributos mais baratos, o que sempre é importante na hora em que se deseja expandir economicamente uma região.
Na essência, o urbanista português resumiu boa parte de seus pontos de vista à uma máxima: “É mais fácil e barato intervir nos espaços públicos do que construir edifícios”.
Outra questão levantada por ele: é oferecer estacionamentos nas áreas não bem servidas de transporte público, usando a lógica inversa nas regiões o0nde o contrário aconteça. E, principalmente, facilitar os processos de licenciamento, o que já é uma tendência no mundo.
O Seminário Internacional Agora Natal foi promovido pelo Grupo de Comunicação Agora RN. As palestras aconteceram no Hotel Barreira Roxa, na Via Costeira, nesta quarta-feira (12).