Projeto reúne traços do patrimônio material e imaterial potiguar
O exercício de desenhar está presente nos seres humanos como um modo de expressar e comunicar. Antes da consolidação da linguagem verbal, os hominídeos ilustravam plantas, animais, pessoas, lutas ou rituais, fato observado com a descobertas das pinturas rupestres nas cavernas pré-históricas. Ao longo da nossa história, chegando na Antiguidade, observamos o desenho sagrado, especialmente no Egito, para decorar tumbas e templos. Já na Mesopotâmia, iniciou-se a criação de representações da terra e de rotas de forma primitiva.
Outro marco importante para o desenho foi a invenção do papel pelos chineses, pois, até então, ele ocorria em diferentes materiais como barro, couro, tecidos, pedras ou no papiro (tipo de papel fibroso usado pelos egípcios). Inicialmente com o uso dos dedos, a evolução dos traços passou pela utilização de madeira ou ossos, até chegar às penas e à caneta tinteiro, precursora da esferográfica.
Hoje as técnicas de desenho estão cada vez mais apuradas, inclusive em áreas específicas como a arquitetura, que produz planos e modelos, desenha detalhes, coordena e fiscaliza construção ou restauração de espaços, tendo como base a necessidade das pessoas e suas relações com o meio ambiente, além de levar em conta questões estéticas.
O desenho de locação ou de local é uma técnica utilizada no campo arquitetônico como um tipo de registro feito a partir da observação, e possui como principal característica ser realizado in loco. Para a formação do arquiteto e para o exercício da arquitetura, a prática de desenhar possibilita a construção de memórias sobre o ambiente desenhado. Nessa perspectiva, visando articular as atividades de desenho de locação capitaneadas pelo grupo Urban Sketchers Natal e as discussões sobre o patrimônio cultural do bairro da Ribeira, foi criado o projeto de extensão “Ribeira Desenhada” da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) .
De acordo com o coordenador da ação e professor do Departamento de Arquitetura (Darq-UFRN), José Clewton do Nascimento, o projeto é formado por um conjunto de atividades que visam articular discussões sobre o legado cultural da Ribeira, visto que o local é um dos espaços mais significativos nas instâncias da herança material e imaterial.
Com a participação de instituições como o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo (Semurb) e Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB/RN), uma das diretrizes do trabalho é criar relação de aproximação com pessoas que vivem a Ribeira em seu cotidiano, como ocorreu com Nalva Melo (Café Salão), Artur Maia (Ateliê Bar), Valdércio Costa (diretor do Clube de Remo Náutico Potengy), Flávio Freitas (Ateliê Flávio Freitas), Espaço Cultural Buraco da Catita, Anderson Tavares de Lira (Instituto Tavares de Lira), Anchieta Miranda (Galeria B612), Henrique Fontes (Casa da Ribeira), entre outros.